Mar Oculto

Monday, October 30, 2006


Percorramos o raciocínio...

...se um olho mirar um comboio a todo o vapor...se outro olho observar um mar revolto...o que nos leva a dizer que a máquina veicula-se por cima de água...falta-nos o chão...uma ponte sobre o mar...nesse caso o comboio caminha mesmo sobre a água, não?

Friday, October 27, 2006


Afinal a esperança encontrei-a no mesmo local onde a deixei.

Tuesday, October 24, 2006

Ninguém vence a solidão

Sunday, October 22, 2006

Mantenho sempre comigo os versos de amor, apesar de não rimarem, nem possuiream qualquer beleza ou altivez, tem como única qualidade a memória de um estoicismo que esvanece.
Não me posso vangloriar de vitórias porque não tenho nenhumas, eu sou definido pelas derrotas que dia a dia me lanham a alma, é a memória de um dia cuja noite anterior não conhecerá fim, e contudo, estou fadado a permanecer no crepúsculo.

Friday, October 20, 2006

E apesar da chuva, nuvens carregadas, fortes trovoadas, rimbombantes relâmpagos e medos ocultos, houve um pássaro que me lembrou que o sol ainda brilhava, mais além...ao Norte.

Thursday, October 19, 2006

Nunca pensei que ganhasse manifestação fisica, sempre a senti, mas acreditei que esse sentir era do foro imaginativo, contudo enganei-me, a cada dia que passa é um peso maior e maior no peito, entre o coração e o estômago, como se fosse um vórtice. Cresce a cada dia mas eu já me habituei à ideia que vou ter de viver contigo até ao fim.

Wednesday, October 18, 2006

Que o teu futuro eleve-se num entrecruzar de sonhos seguro na tua mão.

Sunday, October 15, 2006

Vi uma edição do novo programa e projecto da RTP - Grandes Portugueses.
Foi um programa deveras curioso onde várias pessoas entrevistadas disseram de sua justiça a opinião neste assunto, não fiquei surpreendido ao ser dado destaque a figuras do século XX, mas de modo a avaliar correctamente o pódio de melhor português, deve-se largar o manto do tempo que nos tolda.
A minha escolha é deveras prosaica, sou o típico português que escolhe o conterrâneo mais antigo, Dom Afonso Henriques, pois sentiu a nacionalidade que complementa o nosso sangue, muito antes de qualquer outra pessoa o haver sentido. Haja respeito e admiração por uma alma assim.

Se chegaste a um novo caminho na tua vida, não te esqueças que ao Sul apresenta-se o Passado que não queres repetir, a Oeste a esperança que te irá trair, a Este o futuro que não queres assumir, e ao Norte o desconhecido que tanto temes.

Friday, October 13, 2006

Serão sempre os teus sorrisos, palavras e olhares mais simples que destroiem qualquer hipótese minha de quedar-me «orgulhosamente só», obrigado por me aliviares a solidão.

Thursday, October 12, 2006

«Abandonem Najera, fujam de Pamplona, saiam de Roncesvalles.
Não levantem a cabeça, não sorriam ao sol, não esperem aquele carinho pelo qual tanto amargaram, não chorem de tristeza, não gritem de desespero, não reclamem o que perderam, não planejem futuros mais risonhos, não sofram em vão, não amem com causa, não corram de cólera, não violentem por vingança, não versejem por desgosto, não morram sem sentido, não vivam para lutar, não desejem altruisticamente, não caiam de dor, não enfureçam de inveja.
Perdemos a batalha, a guerrae independência, deixem que o sol oiça as espadas carpir as nossas mágoas, porque hoje perdemos a voz, a visão, o tacto, a língua, e acima de tudo, a nossa alma.»

- Anexação do País Basco ao Reinado de Castela e Aragão em 1035.

Wednesday, October 11, 2006

Não me deem uma manhã primaveril, nem uma tarde solarenga de verão e também podem por de parte os dias chuvosos do inverno.
É dessas manhãs brumosas do Outono que preciso, dessa indefinição tão certa entre árvores mortiças e céus cinzentos, olhares cálidos e expressões vazias, do sol sem se ver mas que de tão luminoso ilumina mesmo através das opacas nuvens brancas, da natureza que perdeu a esperança, das ruas que perderam a vida do quotidiano anterior, do mar em fúria e das pedras enegrecidas, dos barcos solitários em busca do alto mar, da serra verdejante ensombrada pelos colossos no firmamento, da praia molhada de chuva e maresia.
É nessa estação, onde a solidão e a desesperança abarca todos os elementos que a compõem, que o sorriso morre, as lágrimas secam, um abraço falta e aquele desejo de um caloroso beijo desvanecem.
Já ninguém espera, já ninguém deseja, já ninguém quer, a derrota habita na postura de todos, pessoas, animais e elementos. O Futuro desaparece e o único que permanece é o Presente, tão desolado e certo como se sente.

Saturday, October 07, 2006

Kibakaton Washi media na parede de madeira da casa de árvore improvisada o bruxulear da chama que a vela sustia. Ao lado da sombra irrequieta, outro vulto permanecia quieto e hirto, olhando pela janela humilde o bosque que se estendia diante de si, tentando pescrutar a serpente de shinobis que se movia por entre o escuro rebatido das árvores na relva do chão.

Dame Ryoushi era um homem já habituado a certas coisas, não sendo experiente o suficiente para que o corpo caísse na velhice, era arguto quanto baste por aquilo que já havia passado, compreendia a impaciência das pessoas em geral, a vontade imediata de actuar causada por uma esperança temerária e consequente.

- Senhor...- falou Washi. - Os homens avançam céleres.
Um silêncio manteve-se, Ryoushi mantinha-se atento às subtilezas da paisagem.
- Não nos ordena mais nada, senhor?
- Porquê? - Irromperam finalmente as palavras do homem, vagas e esmorecentes.
- Bem, senhor...- Washi queria arranjar resposta à pergunta tão confusa como objectiva. - ...uma das primeiras nações shinobi que estavam previstas no Acordo Tamaranai Kibun está no nosso horizonte, por agora não temos desenvolvimentos na frente de batalha mas as fraquezas esperadas nas muralhas do inimigo estão como previsto, a ceder.
Um sorriso irrompeu na face de Washi sentindo-se completo pelo alívio a que se impõs ao relatar os acontecimentos a Ryoushi, seu superior.
Mas este continuava sem falar, apenas de moveu da frente da janela, sentando-se na sua berma, o traje negro de shinobi confundia-se com o breu da noite, os olhos do Kage buscaram no alto o brilho das estrelas, luzindo elas no firmamento, voltou a baixar a cabeça.
- Perderemos. - A resposta conclusiva e maquinal de Ryoushi embaraçou o seu subordinado levando este a um desespero oculto, nos olhos quase lacrimejantes falou num tom mais alto que o permitido entre líder e liderado.
- Ryoukikage! Não diga isso, peço! Tenha confiança nos seus soldados, eles são talentosos, perspicazes e esforçados. Não há nada que eles mais desejam que a glória da vitória. Esta batalha foi aquela pela qual esperaram toda uma vida, eles não lhe falharão, prometo!
- Promessas...promessas...esperanças e futuro e felicidade. - Washi estacou perplexo pela atitude que presenciava. - Para que queremos nós a nação de Rosuarata? O que nos levou até lá e o que vamos conseguir com este empreendimento?
- Mas senhor! Esta conquista trará grandes riquezas Hiheishin, poderemos tornar o nosso país próspero e de grande felicidade para os seus habitantes.
- Tal não acontecerá.
- Senhor...porquê tanta desconfiança?
- Nós vamos perder Washi, essa é a razão, não adianta partir em direcção a um destino que sabemos de imediato que nos irá derrotar e rejeitar...mas mesmo assim partimos, temos de partir não é? Que outra solução nos resta? Ficarmos quietos e esperar até que os ventos da História nos tornem de novo pequenos e olvidados. E que tentamos com Rosuarata? Tentar ficar na história daquela nação? Para quê? Não conseguiremos isso, depois da nossa estadia por ali, Arata terá de volta os seus heróis de sempre e memórias amargas que simbolizarão sempre a melancolia oculta daquela gente...nós nunca passaremos de uma citação numa página entre muitas outras, seremos um grão de sal num lago de água doce, e daí não passaremos. A esperança que nos leva é a mesma de todos os homens, ficar na história de quem mais próximo estão, de quem mais próximos querem estar, mas há vezes em que o destino não nos permite essa última réstia de imortalidade. Ao entrarmos nestas campanhas de sorriso confiante e saindo de sorriso agridoce estamos lentamente a eliminar a orgulho que nos resta. A mim já não me importa um sorriso, um coração ardente de glória. Chega...retiremo-nos, nunca ficaremos no coração da história desta nação, ela terá sempre os mesmos heróis que, inevitavelmente, serão mais fortes do que nós no imaginário desta gente.
- Ryoukikagure...
- Perdemos...não é a primeira vez que tal acontece, mas não quero mais ver o que é da minha nação a acatar mais lanhos por uma felicidade que nunca alcançaremos.

- NJRT

Wednesday, October 04, 2006

Devaneios de um mensageiro -

«O mar é a minha pátria», era a única certeza que Serafim sabia ter sobre o local de origem, nasceu à beira-mar, mas nunca foi em terra que se sentiu em casa, apenas em contacto com a água, e, deixando a omnipotência do Oceano tomar conta da vontade dele. Era Deus. O Oceano era Deus, porque estava em todo o lado, e controlava tudo, e nele havia vida e morte. Era a única certeza que tinha. «O mar é a minha pátria», mesmo como agora, em que Oregano dormitava no convés, o timoneiro controlava silenciosamente a embarcação, as ondas picavam e o céu plúmbeo escurecia com a noite, mas isso era o Céu e um bocado de madeira a flutuar no mar. O mar era indiferente, mantinha o seu rumo fossem qual fossem as condições, não mudava, e, Serafim tinha a certeza que apertando nos dedos no colar de pedra vermelha encontrava conforto na imutabilidade das ondas, ele gostava da ausência de mudança, a mudança implica sempre algo de novo, implica sempre criar novas expectativas e novas esperanças. Ele odiava novas esperanças, por isso, podia sempre contar com o horizonte picado ou liso, mesmo até turbulento, mas sempre líquido do Mar. «O mar é a minha pátria.»

- in A Carta.