Mar Oculto

Friday, July 20, 2007







11 de Setembro e a libertação do Golem


Já alguém viu um anúncio publicitário na SIC Noticias no qual um dos seus pivÔs refere-se ao 11 de Setembro como o «dia que mudou o mundo» e quais os efeitos desse atentado pelo mundo e a total necessidade de acompanhar em tempo real esses acontecimentos?

Bem, essa publicidade é talvez a melhor explicação da actualidade num tão curto espaço de tempo.

Desde o nascimento dos meios de comunicação que permitiram a transmissão de mensagens a nível global de modo breve que houve uma generalização do mundo, no qual o indivíduo mediatizado cria o estereótipo e este volta ao indivíduo desconhecido para o formatar de acordo com o que é aceite para aparecer em todos os postos dos meios da comunicação. Aqui nasceu o reino da imagem.

Porém, os meios de comunicação depressa foram tomados como armas pelos Estados e companhias privadas de modo a estes estarem munidos da informação mais recente sobre os principais rivais, como maior exemplo temos a Guerra Fria, cujos actos bélicos não passavam de obtenção de informação secreta da potÊncia inimiga, foi até o conhecimento por parte dos EUA num raide de espionagem aérea que foi evitado um ataque nuclear por parte dos soviéticos, mais recentemente nos anos 90, a descoberta de uma tal NSA possibilitou também que se ficasse a saber que esta agÊncia secreta norte-americana praticava espionagem empresarial de modo a que as companhia americanas obtivessem superioridade no mercado relativamente Às outras, especialmente as europeias. A espionagem ganhara nos meios de comunicação um agente evolutivo e de conveniente manipulação informativa.

De repente, Hollywood tomou conta dos nossos televisores, num dia em que o Verão aproveitava os seus últimos momentos de graça, recebemos com alguma surpresa a noticia de que um avião havia chocado nos andares cimeiros de uma das torres do World Trade Center, pensámos que seria um infortuno e fortuito desastre aéreo.

Nos primeiros minutos da transmissão em que víamos a torre a verter fumo como se sangue fosse, notamos num pequeno flash do lado esquerdo do ecrã e depois só reparámos numa explosão na segunda torre, a partir daí era oficial que algo de muito estranho se estava a passar.

As cadeias de informação mundial presentes em Nova Iorque alinhavam-se e pesquisavam mais informação como exércitos de formigas rebuscam cada grão de areia para alimentar a Rainha. Esta metáfora não aparece ao acaso, a informação naquele dia estava a serpor completo devorada por milhões de pessoas que estavam pregadas ao televisor ávidas de mais noticias, mais informações de última hora, não só nos Estados Unidos mas por todo o mundo, o sofrimento de um país estava a ser alastrado, sentido e reclamado por todo o mundo, não porque exista um sentimento generalizado de amor e pertença pelos EUA mas porque o que estava a acontecer a mil, 5 mil, 10 mil ou mais quilómetros de distÂncia estava a ser vivido num sentido tão imediato aqui no nosso cantinho quanto no coração americano, Nova Iorque.

Tudo isto através de um actor: os meios de comunicação; televisão, rádio, imprensa, internet, todos unidos para transmitir de modo intensivo aquilo que esperamos já há muito tempo: O Apocalipse.

Ainda que estejamos todos aqui, nunca sentimos tanto um ataque alheio como se fosse na "nossa casa", o vulgar cinzentismo da nossa falta de valores de repente foi irradiada com a visão clara de um oponente claro, real e cujas intenções de nos erradicar eram tão primeiras quanto os seus actos o foram. Foi como se tivéssemos passado a vida á frente do espelho num quarto escuro e um relÂmpago nos tivesse dado a possibilidade de ver o reflexo terrorifico de nós próprios e ao mesmo tempo do inimigo que nos descrevia os nossos piores aspectos.

É a velha máxima de que «eu só sou aquilo que o outro não é», e a população mundial reagiu em massa incorporando essa máxima na visão que teve do mundo.

A partir daí, os meios de comunicação ganharam um novo estatuto, num mundo vindo de uma catártese, a informação despiu o véu intriguista que a espionagem lhe atribuía e ressurgiu como a Comunicação Social que distribui gratuitamente por entre as massas aquilo que elas pedem: Informação recem-formada e o mais chocante possível, a visualização de um Apocalipse como o 11 de Setembro marcou o mundo com uma ansiedade de uma nova purga, a espera por poder ver com tanta clareza o nosso "reflexo no espelho".

Aquando a guerra do Israel-Líbano-Hezbollah, a Comunicação Social de novo surgiu para adivinhar uma escalada de violÊncia que levaria a um conflito titÂnico, com uma possível entrada da Síria, depois Irão, estas duas contra Israel e então os Estados Unidos envolver-se-iam no conflito para proteger a nação semita estalando uma guerra sem precedentes desde a Segunda Grande Guerra.

De novo, a sombra de um apocalipse provocava um desejo "ocidental" interior de ansiedade de grandeza e uma purga.

A Informação sempre foi essencial em qualquer disputa, desde uma guerra a jogo de futebol, o material informativo sempre foi uma ferramenta essencial para alcancar uma vitória sobre o outro, essa necessidade evoluiu dos arautos e almocreves para a rádio, imprensa, televisão e Internet, e com o 11 de Setembro atingiu o seu último estágio: o de um poder institucionalizado e cristalizado que já não é manipulado mas manipulador.

Relembrando uma lenda judaica, o Golem foi inventado pelo artífice para que este o ajudasse e á medida que o Golem crescia, apercebeu-se da sua importÂncia e terminou por matar o artífice que o criou para que finalmente ganhasse uma identidade própria e livre-arbítrio, poder sobre si próprio e a partir daí exercer poder sobre os demais.

A Informação era um instrumento À disposição dos homens para que este pudesse definir melhor a si mesmo de acordo com a sua vontade, porém a Informação acabou por ser a Comunicação Social que define os homens de forma arbitrária levando á estéreotipização do Ser, do Sentir e do Ver de acordo com os padrões de aceitação da Comunicação Social.