Devaneios de um mensageiro -
«O mar é a minha pátria», era a única certeza que Serafim sabia ter sobre o local de origem, nasceu à beira-mar, mas nunca foi em terra que se sentiu em casa, apenas em contacto com a água, e, deixando a omnipotência do Oceano tomar conta da vontade dele. Era Deus. O Oceano era Deus, porque estava em todo o lado, e controlava tudo, e nele havia vida e morte. Era a única certeza que tinha. «O mar é a minha pátria», mesmo como agora, em que Oregano dormitava no convés, o timoneiro controlava silenciosamente a embarcação, as ondas picavam e o céu plúmbeo escurecia com a noite, mas isso era o Céu e um bocado de madeira a flutuar no mar. O mar era indiferente, mantinha o seu rumo fossem qual fossem as condições, não mudava, e, Serafim tinha a certeza que apertando nos dedos no colar de pedra vermelha encontrava conforto na imutabilidade das ondas, ele gostava da ausência de mudança, a mudança implica sempre algo de novo, implica sempre criar novas expectativas e novas esperanças. Ele odiava novas esperanças, por isso, podia sempre contar com o horizonte picado ou liso, mesmo até turbulento, mas sempre líquido do Mar. «O mar é a minha pátria.»
- in A Carta.
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